Viagem aventura > Itararé (SP)

Quando?
27 a 31/dezembro/2009
Onde?
Itararé (SP), divisa de São Paulo com Paraná

Nós no Cânion do Pirituba, Itararé, SP.

Aviso: Esse post é beeem longo

Itararé, região de maravilhas pouco conhecidas pelos paulistas. E uma região que merece ser explorada, pois esconde grandiosos cânions, cachoeiras a perder a conta, belezas naturais, montes de sorveterias por quilo (parece até praia) e um povo gentil e receptivo. Já tinha ouvido falar da cidade diversas vezes, mas lembro que a primeira vez, se não me engano, foi numa revista de aventura beeeem antiga que eu assinava e que nem é mais publicada.
O município fica na região sul do estado de São Paulo, distante 3 km da divisa com o Paraná, e a 338 km de São Paulo (capital). Tem aproximadamente 50 mil habitantes, muitas plantações de soja, feijão, milho e a maior área de reflorestamento artificial do Brasil (3ª maior do mundo). Seu nome vem do tupi-guarani “pedra que o rio escavou” e o tal rio é o Itararé que nasce a 40 km da cidade, a 900 m de altitude, e segue escavando as rochas de arenito até a região do Corisco, onde esculpe formas maravilhosas entre o verde.
A história da cidade está fortemente vinculada às Revoluções de 1930 e 1932, quando Itararé foi uma das frentes de batalha. E hoje a região desponta com o crescente interesse ecoturístico.
Não que muita gente tenha ouvido falar da cidade de Itararé e a confunda com a praia de Itararé, no município de São Vicente.

Fiz contato com uma agência da cidade, a Rastur, onde o Renato Antunes, proprietário, marketeiro e gente muito boa, me passou todas as informações e fechou um pacote completo pra gente. Foi uma troca incessante de e-mails para esclarecermos as dúvidas, montarmos o roteirinho e jogar conversa fora também. Nem precisaríamos nos preocupar com alimentação, bastava chegar na cidade que tudo estava incluso. Era tão bom negócio pra se conhecer a região que mais um casal de amigos combinou de ir conosco.
Depois de muito descanso e da comilança desenfreada no Natal passado na chácara dos meus pais na região da Cuesta de Botucatu, saímos no dia 27/12 após o almoço, rumando pela Rod. Castelo Branco em direção a Avaré. De onde nos encontrávamos era o caminho mais próximo (apontado pelo Google Maps).
Entrando pela Rod. João Mellão (SP-255), passamos pela simpática cidade cercada por várias estâncias, marinas e pela Represa de Jurumirim. As águas brilhavam ao sol e algumas nuvens anunciavam-se ameaçando uma boa tempestade pra tarde. A estrada é tranquila e bem conservada, apesar de ser pista simples. Após o cruzamento com a Rod. Raposo Tavares, a SP-255 muda de nome: passa a se chamar Rod. Eduardo Saigh. Assim atravessamos as cidadezinhas de Itaí e Taquarituba, pegando uma bifurcação alguns quilômetros depois (na altura de Cel. Macedo) em direção a Itaporanga. Nesse trecho a SP-255 já tem outro nome: Rod. Jurandir Siciliano. (Não entendo porque tem-se que fazer tanta homenagem numa rodovia só, mas vamos em frente… rsrs)
Até ali estava tudo muito bem, mas seguindo o mapa indicado pelo Google Maps, caímos numa estrada terrível, que era mais buraco do que asfalto, a SP-281, que liga Itaporanga a Itararé, nosso destino final, passando por Riversul. Sério, gente! Nunca vi tanto buraco numa estrada, a não ser quando cruzei a Bahia de busão pra chegar em Alagoas (e aquilo sim foi aventura). Virou até piada no fim das contas, porque ficamos o resto da viagem dizendo que se tivéssemos que visitar algum lugar que ficasse na estrada de Riversul, a gente desistia de vez.
Mas ao chegar em Itararé a rua Tiradentes, onde desemboca a tal estrada, também tinha tantos buracos que comentamos que aquilo tudo já era pra ir aclimatando o povo. (rsrs)

Atravessando a Represa de Jurumirim em Avaré: estrada linda. Só buracos na estrada de Riversul.

Passado o perrengue da estrada e da tempestade que também nos pegou no caminho, chegamos à Pousada Topitó, que havia sido reservada pelo Renato, às 17h00 (depois de procurar em vão algum lugar bom pra se tomar café na cidade… coisa de paulistano, se é que me entendem). Já logo de cara fomos recebidos pelo Antonio (Tó), o proprietário do lugar, com uma boa conversa. Haja causo pra se contar, seu Tó!! Estávamos tão cansados do treme-treme da estrada que só queríamos tomar uma chuveirada e descansar um pouco antes de continuar nossa busca pelo café (rsrs… não tínhamos desistido ainda), mas o papo do Tó foi indo, indo que ele nos segurou até na porta do quarto. Lá encontramos nossos amigos, Cris e Ricardo, e combinamos de sair pra comer alguma coisa juntos depois do merecido banho. Telefonamos para o Renato, que foi novamente uma simpatia, só pra agendar o horário do início da trilha no dia seguinte.
Seu Tó fez questão de nos avisar que tinha passado em frente à Hamburgueria da cidade e que eles iriam abrir à noite. Ele indicava o lugar, que tinha bons lanches, porções, etc.
À noite fomos jantar na Hamburgueria e pra nossa surpresa o lugar era bem simpático. Pedimos várias porçõezinhas e cervejas, pois o calor na cidade é cruel (E isso qualquer época do ano, como os itarerenses nos contaram. Eis o porque de tantas sorveterias…). No fim da noite estávamos empanturrados de tanta comida, mas foi legal pra sentir como a alimentação na cidade é barata: um hambúrguer por R$ 3,50!!!

No dia seguinte levantamos cedo pra tomar o farto e gostoso café da manhã da pousada, servido só pra gente, pois a cidade ainda estava vazia do povo que chegaria para passar o réveillon. Comemos bastante, pois não tínhamos ideia de como seria o lanche de trilha incluso no pacote do primeiro dia. E ficamos meio chateados por ver se cumprir a previsão do Climatempo que dizia que ia chover muito na região.
Logo às 9h00 chegou o Renato pra nos buscar para o primeiro passeio. Muito animado logo àquela hora, ele nos explicou como seria o dia, nos apresentou ao Marinho, nosso guia juvenil, e nos deu quatro pacotões que eram nosso lanche de trilha, composto por dois sanduíches caprichados até com salada, frutas, chocolates, barrinhas de cereais, mini-goiabinhas (manja aquelas maxi-goiabinhas? Então…) e suco. Afe… achei que em vez de queimar calorias nas caminhadas íamos é ganhar algumas.
Em seguida saímos com nosso carro (Niga, nossa Ecosport corajosa) e fomos em direção a Sengés, já no Paraná (onde fica boa parte das atrações dessa viagem). Pegando estrada de terra com garoinha fina, chata e persistente caindo, rodamos por 17 km até ver a primeira cachoeira do passeio, a Cachoeira da Erva-Doce, que passamos batido parando só pra umas poucas fotos. Seguimos até o ponto de estacionamento para conhecer a Cachoeira do Lajeado Grande, também conhecida como Sobradinho ou Véu de Noiva (que criatividade!!), e depois de uma pequena e bem aberta trilha de 500 m descendo o vale, chegamos à monumental cachoeira, com seus 40 m de altura por 30 de largura num paredão de arenito. Com a chuva ainda caindo, pudemos fazer algumas fotos, mas optamos por não tomar banho, já que o guia falou que seria perigoso naquelas condições. Ficamos imaginando aquela cachoeirona majestosa num belo dia de sol, com as águas fartas caindo no enorme poço com fundo de areia… soubemos depois que lá eles fazem rapel/cascading e também que dá pra passar por trás da queda e fazer um “batismo” nas águas (planos para uma próxima vez).

Cachoeira do Lajeado Grande e nós debaixo da chuva.

Pé na trilha novamente, voltamos ao nosso carro e rumamos estrada acima, deslizando pra lá e pra cá, até alcançar uma plantação de soja à direita. Nuvens cinzentas singravam o céu, mas a garoa cessou. Foi a conta pra atravessarmos a pé a plantação, com cuidado para não pisar nas mudinhas e fugindo das mutucas maledetas que infernizavam nosso percurso. Um outro grupo caminhava junto a nós, mas eram moradores da região que tinham contratado o serviço de guia com o Renato só para esse dia.
Bom, voltando à plantação… mal podíamos imaginar o que viria depois dessa pernadinha… o gigantesco Cânion do Jaguaricatu. Gigantesco, maravilhoso, verdejante, místico… são poucos os adjetivos que encontramos nessa hora pra descrever a sensação de estar lá. É um misto de maravilhamento com uma energia que flui das pedras pra gente, da natureza direto pra dentro da gente.
O Cânion do Jaguaricatu, onde o rio de mesmo nome corre ao fundo do vale, tem paredões areníticos de 50 a 80 m, recobertos de mata nativa de cerrado que já foi em parte depredada por madeireiros, mas que está se recuperando, graças ao empenho de muitos ambientalistas, monitores ambientais e da população em manter as trilhas que descem ao fundo do cânion fechadas. Ainda dava pra ver várias dessas trilhas, onde a mata faz um esforço tremendo para se refazer.
Alguns acreditam que esse cânion e o Cânion do Pirituba unem-se mais ao sul do Paraná ao Cânion do Guartelá, formando uma imensa cadeia de paredões que rasga parte o estado.
Fizemos muitas fotos e ficamos curtindo o mormaço que emanava depois da chuva e a neblina que descortinava a paisagem do largo cânion. Belíssima paisagem, com certeza…

Cânion do Jaguaricatu.

Cânion do Jaguaricatu.

Cachoeiras da parte alta do Lajeado Grande.

Mas ainda tínhamos muito o que ver nesse dia. Nosso roteiro foi alterado devido às grandes chuvas dos dias anteriores, que tornaram a trilha a pé um pouco perigosa. O guia achou melhor fazermos uma parte de carro e então retornamos do cânion e voltamos na estrada até parar à esquerda na parte alta da Cachoeira do Lajeado Grande, onde várias pequenas quedas e piscinas naturais escondem-se ao longo do ribeirão que forma a cachoeira. Aproveitamos essa hora para um belo banho refrescante, pois o calor aumentava conforme a tarde corria. Foi um bálsamo para a alma e reanimou a gente a continuar nosso passeio.
Como tínhamos ganhado tempo com os quilômetros rodados com o carro (a trilha a pé tem cerca de 8 km da Cachoeira do Lajeado Grande, passando pelas piscinas naturais e indo até o Cânion do Jaguaricatu), resolvemos ainda a conhecer duas atrações naturais no retorno a Itararé.
Voltando em direção a Itararé pela PR-151, tomamos uma estradinha de terra bem larga e conservada à direita antes do posto policial, indicando “Bairro do Macuco” e seguimos por aprox. 10 km estrada acima, cruzando com vários treminhões madeireiros que retiravam os eucaliptos e pinheiros já cortados do reflorestamento que cruzávamos. E paramos então em frente a uma porteira dentro do pinheiral, que o guia abriu e nos mandou entrar (ele já tinha a autorização do proprietário). Descendo então por uma curta estradinha em meio aos enormes pinheiros, demos com uma visão inesquecível: o Vale do Corisco e ao fundo a Cachoeira do Corisco, despencando precipício adentro com os seus 106 m de altura. Piramos fazendo as fotos e já fui perguntando ao guia mudinho se havia uma trilha que descesse até o pequeno poço de pedras no fundo do vale. Não há trilha operada pelas agências, mas deve ter um jeito de descer, sim. Fica pra próxima descobrir esses roteiros.
Como nosso guia falava realmente muito pouco, um outro guia que estava com um casal já adiantou que estavam montando uma nova trilha para a Cidade de Pedra, enormes rochas com formas curiosas no Vale do Corisco mesmo.
Foi um momento para se aproveitar demais a paisagem, para uma parada para o lanche e para imaginar como era cada trecho da mata lá embaixo no vale.

Vale do Corisco e Cachoeira do Corisco. Poço do Encanto e a noite caindo em Itararé. Espetáculos da natureza.

De lá seguimos adentrando a estrada de terra (com o carro) por mais uns 5 km em meio ao labirinto de estradas do pinheiral até o Poço do Encanto. (Acho que não conseguiríamos chegar sem o guia, íamos nos perder nas várias estradas que cortam o imenso pinheiral.)
O Poço é um olho d’água cristalina que brota do chão no meio de um capão de mata nativa no meio do pinheiral. Ele foi preservado e é proibido banhar-se em suas águas, para evitar o assoreamento e preservar o frágil ecossistema que criou-se lá, com peixinhos e plantas aquáticas. Vale uma visita rápida e é super curioso como o borbulhar da água do lençol freático aumenta quando pulamos ou fazemos barulho nas margens. É muito curioso!
Nosso dia já estava no fim, eram mais de 17 horas e retornamos a Itararé torcendo para nosso combustível agüentar até o próximo posto, a 18 km. Foi a conta!
Nos despedimos do nosso guia com um sorvete na praça principal (cheia de sorveterias… dá pra ir em uma por dia sem repetir), retornando à pousada para o merecido descanso.
Às 21h00 em ponto o Renato foi nos buscar na pousada para irmos jantar (também estava incluso no pacote, todos os dias). Levou-nos para a pizzaria Pallato, sentou-se conosco, tomou cerveja, contou vários causos, mostrou no laptop o que iríamos ver nos dias seguintes (e enlouquecemos de ansiedade) e ficamos lá um tempão conversando. Parecíamos velhos amigos. Esse cara é demais! Nos fartamos de pizzas e de boas conversas e voltamos pra pousada já passava das 23h. Tínhamos de descansar para o dia seguinte, quanto iríamos andar 14 km numa trilha maravilhosa.

Dia seguinte, após um farto café da manhã, o Renato já estava nos chamando, às 9h00 da manhã em ponto, pra entregar os lanches de trilha (um montão de coisas) e deixar o guia Marinho sob nossos cuidados. Esse era o dia da Trilha das Cachoeiras, percorrendo 14 km a pé e passando por várias cachoeiras.
Seguimos novamente em direção a Sengés, passando pelo centro da cidade e seguindo pela rua Ruy Barbosa, alcança-se uma estrada de terra onde percorremos 21 km, num sobe-desce entre pinheirais e sítios, até chegar a um sítio onde deixamos o carro estacionado pra iniciar a pernada, que nos primeiros quilômetros foi por estrada aberta, com o sol castigando nosso cocuruto. Mais pinheirais, estrada de areia fina e um tempo depois chegamos à primeira cachoeira, a Cachoeira da Cabeceira, que passa pela estrada (!!) e depois cai por 30 metros num vale no meio do cerrado. Fotografamos um monte e iniciamos a trilha descendo ao lado da cachoeira para tomar logo nosso primeiro banho no poço da Cabeceira. O sol estava torrando e não pensamos muito pra entrar na água refrescante do grande poço, tomando uma boa massagem sob a queda.

Cachoeira da Cabeceira, travessia dos campos do cerrado e travessia do Rio do Lajeado Grande.

Cachoeira da Cabeceira, travessia dos campos do cerrado e travessia do Rio do Lajeado Grande. Trilha das Cachoeiras.

Após esse banho reanimador, atravessamos o riacho que segue depois da cachoeira e subimos do outro lado do vale, alcançando um campo de cerrado e depois uma estradinha cheia de rastros de trator em meio a pinheirais e mata nativa com enormes araucárias. Demos depois em um campo cerrado forrado de flores brancas e entremeado por brejos onde atolamos o pé várias vezes. Descrevendo uma volta completa nesse campo, fomos descendo em direção ao leito do Rio Lajeado Grande (aquele mesmo que vai dar na Cachoeira do Lajeado Grande, que visitamos no dia anterior) para acessar as outras cachoeiras do percurso, atravessamos o curso do rio sobre as rochas e do outro lado continuamos a trilha margeando o rio até visualizar a Cachoeira dos Veadinhos, maravilhosa na sua escadaria de águas. Seu poço parecia uma piscina rasa, onde dava para chegar até a queda com água pelas canelas, sentar-se nos degraus da cachoeira e fazer uma gostosa hidromassagem. Aproveitamos pra tomar nosso segundo banho do dia, energizar, limpar toda a nhaca de 2009 e fazer muitas fotos.
Também fizemos nosso lanchão, pois já passava do meio dia. E daí continuamos a pernada para a segunda cachoeira, enfrentando novamente o campo aberto embaixo de um sol de mais de 32 graus, passando por novos brejos onde atolamos até os joelhos numa lama preta, acompanhando a mata que ficou à esquerda. Nesse trecho da trilha atravessamos o rio para o outro lado pelas pedras, onde paramos para algumas fotos, e continuamos a trilha com o rio à nossa direita, seguindo seu curso por dentro da mata.

Cachoeira dos Veadinhos.

Descemos num trecho mais difícil da trilha com ajuda de alguns cipós e chegamos à margem da grandiosa Cachoeira do Lajeadão, com sua torrente de águas caudalosas, que tivemos de atravessar com muito cuidado, nos agarrando nas pedras e nas mãos uns dos outros, para chegar numa plataforma onde deixamos nossas tralhas para aproveitar mais um banho.
Estávamos lá muito lépidos e faceiros e uma nuvem negra, mas muito negra foi se aproximando pela cabeceira da cachoeira, ribombando trovões. Tememos que se ficássemos lá por mais tempo talvez não conseguíssemos atravessar de novo para continuar a trilha, então voltamos antes do combinado, acessando novamente a trilha pela mata, galgando a altura do vale quase sem fôlego pra fugir da chuva, até atingir a parte alta, já acima das copas dos pinheiros e com vista para todo o vale e o Rio Lajeado Grande. Colocamos a capa na mochila pra proteger o que não podia molhar e fomos seguindo a trilha já bem demarcada no topo do morro, com a chuva ao largo, só nos ameaçando com uns poucos respingos. Choveu mesmo muito foi pros lagos de Sengés e Itararé… onde estávamos foi só uma chuvisqueira pra assustar.
Dessa trilha ainda tivemos um visú da Cachoeira dos Bugres pelo alto, mas não nos atrevemos a descer no poço dela porque a chuva ameaçava aumentar. Fizemos apenas algumas fotos.
Por fim, algum tempo depois e ainda fugindo da chuva, atingimos o riacho no trecho da última cachoeira a ser visitada, a do Poço Fundo, mas não fotografamos o poço, apenas a travessia na rocha. Do poço não tivemos nem vislumbre… tamanha era a pressa pra fugir da chuva e terminar a trilha antes do anoitecer. Não tínhamos ideia, mas eram apenas 16h quando chegamos onde o carro estava estacionado, com dois quilos de barro da estrada nos pés. Ficamos rindo dos nossos “saltos altos”. No pequeno rancho pedimos para usar o tanque para lavar os tênis e calçamos os chinelos para entrar no carro.

Trilha das Cachoeiras. Travessia do rio, Cachoeira do Lajeadão, Cachoeira dos Bugres e Poço Fundo (sentido horário).

No caminho, uma parada providencial e já previamente combinada no sítio da dona Augusta, que recebe todos os caminhantes com sua simpatia e seu café da roça mais que gostoso. Nos sentamos à sua mesa, tomamos um café acabado de passar, leite fresco, bolo e pão caseiro quentinho e o queijo e doces que ela mesma faz. Proseamos bastante, demos algumas risadas e brincamos com um gatinho e com um pintinho que ela tinha abrigado da chuva. Ao nos despedir, deixamos um dinheiro como agrado à gentil senhora. Ela sempre tem pão e queijos para vender, mas como não tínhamos onde guardar e ainda passaríamos um dia e meio em Itararé, não compramos o queijo.
Os 21 km de terra de volta à rodovia eram puro sabão e nos deram um gostinho de aventura, quando o carro deslizava para as valetas laterais e o Aroldo tentava controlar no muque. No banco de trás, eu, a Cris e o Ricardo nos divertíamos filmando toda a saga e fazendo nossos comentários hilários.
Chegamos na cidade já anoitecendo e corremos para a pousada para descansar um pouco antes do jantar, pois o Renato tinha prometido nos levar a uma cantina italiana.
Às 21h (pontual, como sempre) ele passou lá com a esposa e fomos todos juntos procurar a cantina, que estava fechada, para nossa decepção. Todos tínhamos ficado com vontade de comer o bife a parmegiana que o Renato tinha divulgado tanto. Assim, ele acabou nos levando num bar-restaurante bem descolado onde além de comermos nosso bife a parmegiana, pudemos jogar fliperama, ver clipes no VH1 e dar boas risadas, todos jantando juntos. Já nos sentíamos velhos amigos do Renato e da esposa dele e voltamos pra pousada bem tarde pra descansar um pouco antes do nosso último dia de passeios.

No dia 30 (último dia de passeio) acordamos já com mais pessoas na pousada, tomamos nosso café e pé na trilha novamente. Nesse dia rodamos cerca de 34 km pelo asfalto em direção ao município de Bom Sucesso de Itararé. Na estrada de acesso nos desviamos numa porteira na Estância Vale do Paraíso, atravessamos mais um eucaliptal onde os tratoristas mais que doidos corriam a toda em meio aos espaços estreitos entre as árvores jogando adubo e estacionamos o carro num trecho mais largo da estrada. Pé na estradinha aberta por alguns quilômetros e logo outro cânion se descortinou em nossa frente, o Cânion do Pirituba, mais uma paisagem majestosa e repleta de formações areníticas que nos lembravam a feição de um índio, uma ave e outras coisas. Com paredões de até 150 metros, o cânion tem uma extensão de 260 km e encontra-se em determinado local já no Paraná com o Cânion do Jaguaricatu (aquele que já visitamos). Mais um local embasbacante e com a mata ciliar primária bem mais preservada que seu irmão siamês, ficamos vários minutos fazendo fotos do cânion para depois seguir uma trilha à direita, bem aberta, até com alguns trechos cimentados, que nos levou até o mirante da Cachoeira da Invernada, do alto de seus 60 metros.
A vista de cima da cachoeira é maravilhosa! Visual para se ficar um tempão admirando. E de lá dá para enxergar algumas das Sete Quedas da Invernada, as piscinas que o Ribeirão dos Papagaios forma antes de despencar na imensa cachoeira e onde se pode tomar bons banhos.

Cânion do Pirituba.

Trilha pro mirante da Cachoeira da Invernada e a maravilhosa cachoeira.

Retornamos até um trecho da trilha onde tomamos a continuação do cimento descendo o vale do Pirituba. O Marinho nos contou que o proprietário daquela fazenda tinha a ideia de montar uma pousada no fundo do vale, aproveitando todas as belezas naturais da região, por isso mandou construir uma estrada até a parte baixa. Mas ele morreu antes de concretizar o seu sonho e as obras foram abandonadas e tomadas pela natureza; boa parte da estrada desapareceu embaixo da mata e só sobraram ruínas do que seriam as primeiras instalações da pousada. Na descida, passamos entre paredões de rocha onde nossas vozes ecoavam e podíamos ouvir o som de morcegos, passamos pelas ruínas e finalmente chegamos numa loooonga pingela que cruza o ribeirão. Era a parte difícil do trajeto, pois a pinguela nada mais era que um tronco de árvore, roliço e coberto de musgo escorregadio; e ainda tínhamos que cruzar o rio em silêncio, para que as abelhas do outro lado não viessem nos atacar (elas tinham atacado guias que estavam lá uns dias antes limpando a trilha). Tivemos muito cuidado, usando uma corda que o guia levou, mais por efeito psicológico do que por outra coisa qualquer.
Então, depois do ribeirão, a trilha segue mais fechada, com vários troncos e pedras como obstáculos, até chegar ao poço fundo da Cachoeira da Invernada, onde novamente nos maravilhamos com o volume de água e a beleza do lugar.

Pinguela para a parte baixa da Cachoeira da Invernada e finalmente o merecido visual da cachoeira.

Ficamos um bom tempo lá tomando banho, curtindo o momento e comendo alguns belisquetes; depois voltamos a trilha toda até onde tínhamos estacionado o carro, para seguir até a parte alta da Cachoeira da Invernada e encontrar os poços das Sete Quedas da Invernada, onde novamente tomamos um banho gostoso e ficamos pelo menos uma hora curtindo o lugar, as piscinas rasinhas e lisas, as hidromassagens naturais e nosso lanchão de trilha, pois depois dos quase 8 km de trilha estávamos famintos.
Aproveitamos muito o mundão de água do Ribeirão dos Papagaios antes de ele ser engolido pelo cânion e se juntar depois ao Rio Pirituba.

Piscinas das Sete Quedas da Invernada. Maravilhosas!!

Para mais uma etapa do nosso último dia, não podíamos deixar de conhecer as curiosas formações rochosas na serrinha de Bom Sucesso de Itararé. Voltamos ao carro (que estava bem comportadinho na estrada, nenhum trator tinha bulinado nele) e pegamos novamente a estrada em direção à cidadezinha, rodando por aproximadamente 21 km até a estrada começar uma íngreme descida serpenteando as escarpas de cânion, de onde já podíamos ver várias pedras e fomos nos animando mais. Estacionamos o carro num acostamento precário de terra e pulamos uma porteira do lado direito da estrada (no sentido em que estávamos indo), subindo por um misto de mata-pasto (cheio de perucas que as vaquinhas haviam deixado) numa trilha curta até alcançar a base das Pedras do Camelo e da Galinha. De longe a gente vê exatamente a forma desses bichos, mas perto das pedras só dá pra imaginar o Camelo mesmo, que é uma formação rochosa menor. A vista panorâmica que se tem lá de cima é de calar fundo.
Contornamos a Pedra da Galinha até chegar à face sul da pedra para poder subir por uma estreita fenda (a cloaca da galinha, credo!), onde tivemos que passar as mochilas primeiro e depois nossos corpos espremidos, e “nascer” do outro lado. rsrs
Escalaminhamos mais algumas pedras da corcova da galinha e chegamos à parte mais alta das costas do “bicho”, onde nos sentamos sobre as pedras pra sentir o vento fresco do fim de tarde e a enorme energia do vale e das escarpas que nos cercavam. Ficamos um tempão lá em cima, deitados, esticados, lagarteando e vendo as nuvens pastarem ao longe.
Foi um fim de tarde sem igual, para uma viagem idem.

Pedras do Camelo e da Galinha, escalaminhada, vista do vale e vista das pedras ao longe.

No retorno, resolvemos não esticar até Bom Sucesso de Itararé pra conhecer o artesanato local, como era proposta do dia, pois já era tarde e a sola do meu tênis descolou na descida da pedra. Tive de aposentá-lo, o corajoso que já trilhou comigo por longos 5 anos.
Retornamos a Itararé e procuramos uma cafeteria que torra seu próprio café, a Klocker, e foi onde conseguimos tomar o primeiro cappuccino realmente gostoso da viagem. Lá nos despedimos do nosso guia Marinho, que tinha levado a gente para várias aventuras, prometendo voltar quando ele estivesse mais “falante”. Rsrs… enchemos o coitado de vergonha.
À noite o Renato foi nos buscar na pousada para um delicioso churrasco na Churrascaria do Luizinho, onde fomos servidos com um delicioso espeto de alcatra desmanchando de macia, bufê de saladas, arroz, tutu de feijão, couve, polenta e etceteras. Brindamos nossa viagem e nossa amizade, prometendo voltar a Itararé para novas aventuras com o Renato.
Dia 31 de dezembro pegamos a estrada logo após o café da manhã, felizes por termos conhecido aquele lugar majestoso.

Para ver as fotos da nossa trip, clique AQUI.

Lugares que quero conhecer ou voltar pra conhecer melhor:
– Edifícios históricos de Itararé (que não deu tempo de visitar/fotografar)
– Trilha da Cachoeira do Lajeado, que não pudemos fazer por conta do mau tempo (fizemos o percurso de carro)
– Cachoeira da Erva-Doce
– Cidade de Pedra (Trilha do Caracol)
– Cachoeiras do Lajeadão, Bugres, Poço Fundo e outros recantos da Trilha das Cachoeiras que não tivemos tempo de curtir
– Sete Quedas da Invernada (fomos só em uma… há outras a se explorar na parte alta da Invernada, no Ribeirão dos Papagaios)
– Caverna do Pinhalzinho
– Cachoeira do Segredo
– Cachoeira Morungava (Fazenda Santa Gil)
– Cascatas do Cambuí e do Funil
– Trilha da Lumber (quando tivermos um 4×4)
– Rio da Vaca e Rio Verde (corredeiras, cachoeiras)
– Lago Azul (em Jaguariaiva, PR)
– Gruta da Barreira (Parque Ecológico da Barreira)

— Infos —

Itararé
Distância: 338 km a partir de São Paulo
Como chegar: Rod. Castelo Branco (SP-280) até Tatuí, saída pela SP-129 e SP-127 em direção a Itapetininga e depois Capão Bonito, pegando em seguida a SP-258 (Rod. Francisco Alves Negrão) até Itararé. Ou pela Rod. Raposo Tavares (SP-270) até Itapetininga e após pegar a SP-127 em direção a Capão Bonito, restante do caminho igual ao acima descrito. Há vários pedágios pelo caminho.
http://www.itarare.sp.gov.br/pmdi/

Rastur Itararé
http://www.rasturitarare.com.br/
Realizam passeios e fazem todo o receptivo na cidade (hospedagem, restaurantes), fora a simpatia do Renato e dos guias
Nosso pacote para 4 dias de passeio: R$ 390,00 por pessoa (tudo incluso, menos transporte)

17 Respostas to “Viagem aventura > Itararé (SP)”


  1. 1 Camila Fernandes 17/01/2010 às 8:24 am

    Meu, que fotos são essas? Que viagem maravilhosa!
    Quem sabe um dia eu vá lá…
    Agora, cá entre nós, como é que pode haver um CÂNIO DO PIRITUBA? Rs!!!
    Beijão!

    • 2 Fabi Fernandes 18/01/2010 às 2:13 pm

      Hehehe… Pirituba é o nome do rio que corre no fundo do cânion. É sempre assim com nomes de cânions por lá.
      Mas um dia a gente vai juntas, pois tem muitas coisas que não deu tempo de conhecer.
      bjs

  2. 3 Zé Maria 27/01/2010 às 12:46 pm

    Esse google maps, viu?
    Vocês deveriam seguir de Taquarituba pra Itaberá!
    Mas agora já foi…
    Parabéns pelo blog, moro em Itapeva, pertinho deste post 🙂

    • 4 Fabi 28/01/2010 às 4:28 pm

      Pois é, Zé… devíamos ter consultado outras fontes antes de aceitar o caminho que o Google indicou. rsrs
      Mas valeu a aventura… hahaha 😉

  3. 5 rivilino 29/01/2010 às 10:40 pm

    que bom que voces gostaram de nossa região , espero que voces voltem em outra oportunidade para conhecer outro pontos muito obrigado pela visita , um forte abraço em nome do povo itarareense

  4. 6 Reginaldo 09/03/2010 às 1:14 am

    Através de suas informações, decidi ir a Itararé neste próximo feriado. Porém gostaria de saber se consigo entrar em contato com vcs para melhor dicas??

    Desde já agradeço.

    • 7 Fabi 09/03/2010 às 12:32 pm

      Oi, Reginaldo. Sugiro que você entre em contato direto com o Renato, da Rastur. Foi ele que montou o roteirinho inteiro pa gente… ele conhece tudo por lá. abs.

  5. 8 ANDRESSA 28/08/2010 às 11:00 pm

    EU ADOREI VER,TCHAU

  6. 9 ANDRESSA 28/08/2010 às 11:01 pm

    GOSTEI DE VER ISTO MUITO LEGAL

  7. 10 Vanessa 28/12/2010 às 8:53 pm

    Olá!!!

    Sempre vou para Itararé pois tenho parentes que moram lá!
    Mas nunca consegui ver mais do que a Gruta da Barreira (Parque Ecológico da Barreira), o Rio Verde e as Pedras do Camelo e da Galinha. Sem falar na estrada maravilhosa um pouco depois de Bom Sucesso de Itararé.

    Adoro a cidade por conta do seu aspecto pequeno que mantem. E o calor como descreveu ocorre mais durante o dia, pois há noites frias até em janeiro!! Já no inverno o frio (pelo menos para mim) é demais!!

    Uma dica: há jovens que acampam na época do carnaval e algumas vezes ficam instalados nas margens do Rio Verde; o que facilita a exploração de mais cachoeiras.

    Mas adorei as dicas para um ótimo passeio e tentarei fazê-lo assim que possível!!!

    Abs.

    • 11 Maria Valentina kobil Marques dib 10/06/2012 às 6:28 pm

      Eu moro em itarare meu pai e dono das cachoeiras e praias eu sou apenas uma criança tem coisas legais lá e e muito bonito bom espero que veja meu comentário bom então já que eu disse a e eu so6 anos tchau!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  8. 12 edu venturini 28/12/2010 às 9:25 pm

    minha namorada é de Riversul, mas morou muitos anos em Itarare hoje mora em Itu, sempre que vou para River, pego a Castelo Branco até Tatui, onde entro na SP127 sentido Tatui e Itapetininga vou até Capão Bonito onde pego a SP258 até chegar em Itarare.

  9. 13 Marcos 12/03/2011 às 2:46 pm

    Conheci outras opções no seguinte site, http://www.valedoitarare.com inclusive trilhas com bikes e o boia cross.
    Vale do itararé é lindo…
    espero ter ajudado

  10. 14 J Luiz 03/01/2012 às 7:46 pm

    A estrada Itaporanga Riversul itararé já está praticamente toda reformada.

    • 15 Fabi 04/01/2012 às 6:55 pm

      Que bom saber disso, José. Espero que mantenham a estrada em boas condições. Realmente foi uma péssima surpresa cortar caminho por lá e encontrar a estrada naquele estado. Obrigada!

  11. 16 sandro 06/04/2012 às 12:25 am

    Olá sou de Riversul e as estradas aqui estão excelentes toda recapada.


Deixe uma resposta para Marcos Cancelar resposta




Ilustradora e designer gráfica. Fotógrafa amadora nas horas vagas. Artesã, artista, escritora, dramática, curiosa de plantão, inquieta exploradora de novas facetas de mim mesma. Mãe de uma pipoquinha que me instiga a sempre evoluir e descobrir novas coisas. Amante da natureza e do turismo ecológico. Opositora fiel do tédio. O espírito inquieto não combina com a inércia. O mote é conhecer lugares novos, provar novos sabores, falar com gente interessante, ter novas experiências, compartilhar, aprender... Conhecimento é o exercício permanente de provar novas coisas.

Páginas

Arquivos

Coloque seu e-mail para receber novidades e notificações do Blog.

Junte-se a 4 outros subscritores